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Evento em homenagem a Sodré fala de predicados relevantes ao homem público

No quarto dia da “Semana Muniz Sodré”, os palestrantes discutiram a questão do homem público, tendo o jornalista homenageado como referência. À mesa estavam presentes os professores Dênis de Moraes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Ester Kosovski, emérita da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, além do escritor e integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) Cícero Sandroni.

O imortal começou a palestra afirmando que Sodré “é um completo ignorante, segundo a visão de Millôr Fernandes”, pois o ignorante, de acordo com o escritor recentemente falecido, é “aquele que quanto mais sabe, mais anseia por saber; quanto mais aprende, mais sabe que tem a aprender”, já que o conhecimento é inesgotável.

Além disso, Sandroni falou sobre o funcionalismo público no Brasil. “No setor público, um homem se destaca quando não só administra, mas quando não toma atitudes em benefício próprio, e sim da melhor maneira a servir a sociedade”. Para tanto, citou os cargos públicos já ocupados por Sodré, como diretor da ECO-UFRJ e presidente da Fundação Biblioteca Nacional. “Este homem, mais de uma vez, renunciou aos próprios desejos para o bem da maioria”, acrescentou.

Dênis de Moraes falou sobre a relação entre intelecto e mérito. “Quando um intelectual alcança o poder, isso se deve principalmente a seu prestígio. É resultado de seu esforço físico e, principalmente, mental”, afirmou. Segundo ele, a diferença entre um homem comum e um intelectual é que este “ilumina o poder”, acrescentando, “ele comanda, mas também participa dos espaços acadêmicos, onde se pode discutir ideias, evitando atitudes ditatoriais”, explicou, mencionando Gilberto Gil como exemplo.

Moraes também abordou a questão da ética, imprescindível ao homem público, pois “uma coisa é servir no poder, outra é servir ao poder”, afirmou, citando Antônio Cândido. Assim, concluiu sua fala dizendo que ética implica dizer a verdade. “Não se pode temer o poder. O homem público, sendo um intelectual crítico, deve indignar-se quando preciso e, claro, não ficar nos ‘guetos’, nos grupos que só falam e fazem para si mesmos”.

Por último, Ester Kosovski retomou o que foi dito por Sandroni, citando Paulo Freire: “Para que quem sabe possa ensinar a quem não sabe, é preciso que quem sabe saiba que não sabe tudo”. A professora disse ainda que, neste processo de aprendizagem, a humildade é fundamental a quem está ensinando, e não só a quem aprende.

A docente finalizou discorrendo sobre ética e caráter. “O caráter de um homem é um deus e um demônio. Mesmo tomando atitudes aparentemente boas, ele pode errar. Por isso precisa tomar atitudes conscientes, mesmo que, a princípio, pareçam ruins ou não tenham o apoio da maioria. O homem público deve ter o discernimento diferenciado”, disse.