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Jornada discute a composição da identidade do sujeito

A mesa-redonda “O corpo em discussão”, que compôs o ciclo de debates da “4ª Jornada de Estudos do Núcleo de Pesquisas Clínica Psicanalítica (Clinp)", analisou a construção da identidade do sujeito através da imagem do outro. O debate contou com as presenças do professor Henrique Figueiredo Carneiro, da Universidade de Fortaleza (Unifor), e da professora Júnia Vilhena, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). O evento, promovido pelo Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ, aconteceu no prédio anexo do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ.

O primeiro tema em questão foi “Sociedade, discurso e narcose do corpo”, em que os termos “autonomia” e “anomia” foram os pontos de partida para a compreensão do assunto como um todo. Segundo Carneiro, “autonomia ganha sua força conceitual a partir dos anos 1970. Ser autônomo, dentro de uma lógica capitalista, está relacionado com eficiência e eficácia. Essas são as condições para a felicidade. Assim, o conceito acaba se ‘psicoterapeutizando’”.

Na Psicanálise, a autonomia tem referência no imaginário e diz respeito à construção do sujeito como “eu autor”. “Numa sociedade pautada por uma cultura narcisista, o outro é tomado como referência para criar a própria identificação, muitas vezes sendo imagem do que não se deve ser”, explicou o professor. Então surge a questão: quem é esse outro? “Como este ser não possui uma cara sustentável pela via do discurso, o sujeito deduz que o outro é, na verdade, o próximo”, acrescentou o docente.

Chegando ao termo “narcose”, o professor explicou que o conceito surgiu em 1924, com Freud, a partir da ideia de que Narciso sustentaria a relação do sujeito com o restante da sociedade. No entanto, o que aconteceu foi a perda de vínculo com a realidade.

O segundo tema discutido foi “O corpo e seus discursos: falas da dor”, no qual a professora lacaniana Júnia discorreu sobre sujeitos sem rosto e população invisível. Segundo ela, “o corpo é estruturalmente social, a dor é sentida a partir da cultura em que o sujeito está inserido”. Sendo assim, esse sentimento representa a particularidade da cultura, a subjetividade do sujeito, tal como a universalidade da sensação, já que todos sentem dor.

A professora destacou que o corpo é constituído pela sociedade, muitas vezes através de rituais de iniciação, os quais pressupõem dor e marcas. “A sociedade imprime sua marca no corpo do jovem e isso gera um reconhecimento mútuo. A força que impulsiona o jovem a aguentar o sofrimento é o desejo de ser inserido em um grupo. Não tem nada a ver com masoquismo, mas com sentimento de pertencimento”, esclareceu Júnia.

No que tange à invisibilidade, a dor é vista como realidade social. Nos oprimidos, é algo natural tanto para os que oprimem, como para os que sofrem. “O espaço público é onde o sujeito mostra a importância de sua existência, revelando-se ao outro, sendo percebido. Como viver sendo invisível, numa existência e modo de vida que não interessam a ninguém? Imaginem-se sendo minorias”, concluiu a professora, fazendo com que o público refletisse.