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Estudo aponta para possível tratamento nas disfunções do sistema nervoso central

Sendo parte do olho dos vertebrados e responsável pelo sentido da visão, a retina, além de reter as imagens, também as traduz para o cérebro através de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Um dos três tipos básicos de células gliais existentes na retina humana, as células de Müller formam estruturas de apoio que se estendem através da espessura da retina, limitando sua membrana interna e externa.

Com o objetivo de apresentar os resultados sobre a habilidade das células de Müller de se diferenciarem, em cultura, para o fenótipo dopaminérgico, através da expressão de proteínas e enzimas relacionadas, e também sobre a capacidade dessa célula em produzir e liberar o neurotransmissor dopamina, Bernardo Stutz Xavier defende, em 22 de agosto, às 14h, na sala G1-022 no Bloco G do Centro de Ciências da Saúde (CCS-UFRJ), sua tese de doutorado “Diferenciação dopaminérgica funcional de células de Müller de vertebrados em cultura”. Seu estudo, orientado pelo professor Fernando Garcia de Mello, do   IBCCF/UFRJ, propõe ainda o uso desse tipo celular como fonte de células dopaminérgicas em eventos de terapia celular, em um modelo experimental do Mal de Parkinson, que já apresenta resultados promissores.

As células gliais são células não neuronais do sistema nervoso central que participam ativamente das comunicações celulares no tecido.  As do tipo glia de Muller têm diversas funções de extrema importância para a saúde dos neurônios da retina, como a limpeza de resíduos neurais, a proteção dos neurônios da exposição ao excesso de neurotransmissores, a manutenção da homeostase de íons, a modulação da atividade sináptica e a produção de fatores tróficos.
           
As células desse tipo parecem ter um potencial regenerativo, mas, em mamíferos, tal qualidade não aparece tão espontaneamente após um ferimento. Diversos cientistas tentaram estimular determinadas células do nervo da retina de ratos para crescer em pratos de laboratório, injetando fatores relacionados ao crescimento celular ou à reativação de determinados genes, silenciados após o desenvolvimento embrionário.

Seus estudos mostraram que as pilhas da glia de Müller poderiam ser estimuladas artificialmente para dividirem-se outra vez, e algumas começaram a mostrar receptores que detectam luz. Porém, não foi possível encontrar nenhuma regeneração de células nervosas da retina interna, exceto quando as glias de Müller foram modificadas com genes que promovem a formação de células amácrinas, que atuam como intermediárias em sinais transmissores do nervo.

O cientista americano Tom Reh e outros pesquisadores conduziram uma análise sistemática de resposta ao ferimento na retina do rato e dos efeitos da estimulação específica do fator de crescimento na proliferação de células glias de Müller. Em relação a sua multiplicação, os pesquisadores confirmaram sua presença ao verificarem a existência de agentes químicos produzidos especificamente por elas

Segundo Bernardo Stutz, doutorando do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, entender melhor esse processo pode ser extremamente útil como potencial terapia contra disfunções que acometem o sistema nervoso central, como o transportador associado à dopamina (DAT), as enzimas tirosina hidroxilase (TH) e dopa descarboxilase (DDC) e o fator de transcrição Nurr1. Além disso, esse tipo celular pode, sob determinados estímulos, “desdiferenciar”, reentrar no ciclo celular, e estudos adicionais do potencial das células e dos métodos para regenerá-las mostraram a possibilidade de novos tratamentos para a perda da visão motivada por doenças prejudiciais à retina, como a degeneração macular