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“Ser Feliz Hoje” tem sua primeira mesa de debates

Na última quarta-feira (25/08), a Casa de Ciência da UFRJ realizou a abertura e a primeira mesa do “Seminário Internacional Ser Feliz Hoje: Reflexões sobre o Imperativo da Felicidade”. Reunindo nomes nacionais e internacionais ¯ dentre antropólogos, cientistas políticos, comunicólogos, historiadores, psicólogos e sociólogos ¯ o encontro acadêmico teve como objetivo desvelar a “verdadeira felicidade”, que passou a ser ofuscada por prescrições e relatos do campo da psiquiatria e da mídia, principalmente na publicidade e na publicação editorial, com os livros de autoajuda. O evento foi realizado pelo Programa de Pós-graduação (PPGCOM) da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, com apoio da Globo Universidade e organização do professor João Freire Filho, coordenador do PPGCOM.

Por que debater o Imperativo da Felicidade?

A abertura foi feita pelo organizador do seminário que esclareceu o surgimento da ideia de debater a felicidade, ”foi um momento de reflexão sobre as receitas para a felicidade, a “obrigação moral” apresentada pelas propagandas publicitárias: ser, implica a obrigação de atingir a felicidade”, explicou Freire.

Ele citou a criação do Felicidade Interna Bruta (FIB); um conceito de desenvolvimento social criado em 1972, baseado na ideia de que o princípio do verdadeiro desenvolvimento da sociedade humana se dá quando o desenvolvimento espiritual e material são simultâneos, e citou o Projeto de Emenda Constitucional no Artigo 6º da Constituição, que pretende incluir a busca da felicidade como direitos sociais.

A Mesa 1 do seminário teve como convidados Toby Miller, cientista social britânico e professor da University of California (EUA); Joel Birman, psiquiatra e professor de psicologia da UFRJ, e Denise Bernuzzi de Sant’anna, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Muitas felicidades?! O imperativo de ser feliz na contemporaneidade.

“Vivemos diante de um mandato, a exigência de ser feliz se tornou um imperativo” disse Joel Birman, professor de psicologia da UFRJ em sua palestra. O processo de vitimação, citado pelo professor, é o que acontece com aqueles que não conseguem fazer parte do projeto felicitário imposto.

“A felicidade constitui projeto social na modernidade” afirmou. Birman destacou o hedonismo como forma de busca de prazer e felicidade na sociedade contemporânea e a condição da depressão e do pânico, que desencadearam a evolução das neurociências, antidepressivos, tranquilizantes e terapias cognitivos comportamentais.

Uma história da construção do direito à felicidade no Brasil

Denise Bernuzzi de Sant’anna, professora PUC-SP, fez um paralelo entre a evolução publicidade e a ideia de felicidade. “Até 1920, felicidade e alegria eram raras na publicidade” citou também o “american way of life” e a publicidade no Brasil, “a década 1920 foi a primeira a dar opções de valores e produtos para beleza e alegria, com rótulos que remetiam ao bem-estar e prazer”, afirmou a professora.

A década de 1930 foi o que introduziu os anúncios com pessoas e jingles no rádio remetendo à felicidade como objetivo. Slogans como ”sinta esse prazer”, usado por volta dos anos 1960 no Brasil, passaram a ser recorrentes na mídia. “A alegria acabou se tornando elemento fundamental nas propagandas até hoje”, comentou Denise.

Felicidade ao Estilo Americano

Toby Miller, professor da University of California (EUA), falou do “american dream” e o “american way of life”. Citou os fenômenos Hollywoodianos e o consumismo para ser feliz. “Com a industrialização e o crescimento da economia americana, a noção de comprar uma casa tornou-se um modelo de adquirir felicidade, incentivando empréstimos nos EUA”. Com o investimento econômico voltado para a geração de felicidade, surgiram também investimentos na produção e pesquisa em saúde e medicamentos.

A depressão sendo considerada doença trouxe a febre dos tranquilizantes “happy pills” (pílulas da felicidade), com o slogan “Engula e fique feliz”. Miller revelou que 25% da população norte-americana não utilizam prescrição médica para adquirir medicamentos psicofarmacológicos. “Os gastos com este tipo de medicação dobrou mesmo com a inflação no país” completou.