Categorias
Memória

Mesa debate desigualdade de gêneros

A Faculdade de Educação (FE) da UFRJ promove a “XI Semana de Educação”, com o tema “Educação além do que se vê: (des) construindo identidades” até esta sexta-feira (11/06). Na última quarta-feira (09/06), a mesa de debates “Combatendo desigualdades de gênero em contextos educacionais” contou com a presença das professoras do Ensino Básico Carla Romão e Daiana da Silva, representantes da Organização Não–Governamental (ONG) CAMTRA e de Ana Marina Pinheiro, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs) da UFRJ.   
A CAMTRA é uma Ong que luta por uma “Educação não sexista” e que procura uma formação “mais feminista” da sociedade e dos cursos de Educação. Segundo Daiana, o machismo e o preconceito contra as mulheres estão presentes na maneira como as professoras e a sociedade abordam o papel da mulher. “Os livros didáticos são machistas, pois colocam as mulheres como apenas coadjuvantes da História, como se o papel delas não tivesse sido essencial em muitos aspectos”, analisou. “A ideia é sensibilizar as mulheres sobre o tema, para que elas mesmas não reproduzam esse estereótipo”, afirmou Diana. “Existe uma construção social do gênero, em que a mulher é assim e o homem é assado. Mas isso não é verdade, qualquer pessoa, independentemente do sexo, tem suas particularidades”, completou.
Para Carla, existe um separação formal entre homens e mulheres desde a infância. “A menina, na escola, é aquela que tem que ser frágil, praticar atividades mais calmas, enquanto que os meninos fazem atividades que envolvem força, coragem, respeito”, analisou. O fato de que os professores estão sendo educados em uma escola sexista impede um avanço na discussão sobre o tema, segundo Carla. “O pior: a escola não é só sexista, mas também racista. Onde estão os negros na nossa História? Como construir uma auto-estima alta para as mulheres e os negros se não somos representados como ativos na história?”, indagou.
Para Ana Marina, A violência sexual cada vez mais freqüente e o atendimento deficitário – e muitas vezes machista – são uma evidência de que é preciso debater o tema cada vez mais a fundo. A coordenadora do Laboratório de Estudo dos Gêneros do Ifcs-UFRJ revelou que os casos de violência contra a mulher têm aumentado significativamente nos últimos anos e é preciso entender os motivos. “Nós precisamos debater. Não podemos ficar apáticos, não podemos naturalizar o papel da mulher na sociedade. A mulher não é apenas um corpo, um objeto de consumo”, disse incisiva. 
Para Ana Marina, o que existe atualmente é a “subalternização do feminino em todas as relações humanas”, que isto é resultado de uma construção histórica da sociedade e deve ser entendida e debatida. “Precisamos estudar o nosso contexto, a nossa sociedade, a partir de estudos que falem para nós, para a nossa realidade. É isso que tentamos fazer no Laboratório, debater sobre o tema e produzir algo efetivo”, disse. Para a coordenadora, o debate sobre as drogas e o sexo deve ser primordial para o entendimento de crimes, como o golpe “Boa Noite Cinderela”. “Temos que discutir coisas que acontecem efetivamente na sociedade. Ninguém vai parar de se drogar nem de fazer sexo, então temos que colocar esses assuntos na mesa. Muitos crimes passionais envolvem os dois elementos, o ‘Boa Noite Cinderela’ também”, comentou.

De acordo com Ana Marina, o atendimento às vítimas de violência sexual também devem ser aprimorado. “A nossa Polícia é arcaica, com valores conservadores. Não adianta achar que é só colocar mulher lá, como fizeram um tempo. Mulher também é machista. Temos que preparar, homens e mulheres, para o atendimento especializado”, analisou. “A violência contra a mulher não é só física. Ela é verbal, gestual e vai além do que as próprias mulheres entendem”, concluiu.