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Por um nascer mais humano

 Em seu segundo ano consecutivo, o ciclo de palestras “Gestar, parir e nascer naturalmente humanizados” integrou psicólogos, ginecologistas, obstetras, sexólogos, enfermeiros e fisioterapeutas para uma mesa-redonda a respeito de uma questão emergencial: a saúde da gestante e de seu bebê. O evento foi realizado no salão Pedro Calmon, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Urca. No entanto, a plateia não era apenas composta de cariocas: muitos vinham de lugares como o Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Macaé, Rio das Ostras, São Paulo e até mesmo de fora do país.

Participaram do debate Elisa Rodrigues (chefe do departamento de enfermagem da Terra Infantil), Herdy Alves (presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO-Nacional)), Jurema Gouveia de Souza (terapeuta floral, enfermeira obstétrica do Hospital Universitário Gafrée e Guinle) e Fátima Reis (enfermeira ginecobstetra e coordenadora do Ciclo). Logo no início, porém, os palestrantes fizeram questão de se desligarem de seus títulos imediatos para fazer uma abordagem mais humana a respeito da questão da mulher gestante e do recém-nascido. Ao fundo, era exibida uma sequência de slides com o trabalho do fotógrafo William Santos, na exposição AmaMentAção.

A integração e o orgulho de ser brasileiro também foram manifestados continuamente. Professores, ouvintes e palestrantes fizeram um belo e afinado coro do Hino Nacional para abrir o evento. Quando todos voltaram a se sentar, Herdy Alves demonstrou empolgação: “Que bom que o amigo do som não tinha o CD com o Hino aqui: assim pudemos cantá-lo por nós mesmos e entendermos que somos brasileiros”, diz, acrescentando acreditar que falta reaproximação política com o nosso país e que isso se torna um problema em diversas áreas estratégicas, não apenas na saúde.

O principal objetivo foi o de conscientizar profissionais de saúde no intuito de reduzir a mortalidade materna, infantil e do recém-nascido. Na segunda parte da discussão, ministrada por Herdy Alves, ficou claro que existe um nítido desnível dos riscos enfrentados pelas gestantes e bebês entre as regiões do país. A mortalidade chegaria a 21,7% no Norte e 27,18% no Nordeste. Nas demais regiões, a média não passaria dos 13% – estatística, ainda assim, elevada.

Os principais inimigos da saúde, neste caso, seriam a pobreza extrema, a desinformação, a falta de interesse e o desrespeito. Além disso, foi foco promover o parto natural e revelar a importância dos enfermeiros obstetras como categoria específica que tem função estratégica na área da saúde.

Acima de tudo, porém, a questão é continuar um saber/fazer que não necessariamente precisa estar totalmente vinculado ao consultório. É neste sentido que a ABENFO também realizou parcerias com o Ministério da Educação – para projetos de educação das mães -, com o Ministério para o Desenvolvimento Social e Ministério do desenvolvimento agrário – combatendo a discriminação por cor ou etnia, e promovendo a obtenção de renda familiar digna –, e com a Fundação Nacional de Saúde e o Ministério das Cidades – para colaborar no desenvolvimento de um ambiente sadio e saneamento básico. Olhar para o outro como sujeito completo, e não apenas paciente, foi a grande questão do Ciclo.