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Professor da UFRJ estuda poluição sonora em aeroportos

Quando pensamos em expandir aeroportos, um dos fatores a serem levados em conta é a poluição sonora que o movimento dos aviões pode causar. O barulho prejudica a comunicação — o que pode atrapalhar aulas em escolas, por exemplo —, o sono de moradores do entorno e pode até causar problemas auditivos em quem trabalha perto da pista de decolagem. “Nem todos esses problemas podem ser resolvidos aprimorando os aviões. É preciso trabalhar em outras frentes, como mudar os procedimentos de voo”, explicou Jules Slama, professor de Engenharia Mecânica da UFRJ.

Jules Slama coordena o Grupo em Estudos de Ruídos Aeroportuários da UFRJ, que por seis anos foi contratado pela Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) para avaliar a poluição sonora em mais de 40 aeroportos brasileiros, e hoje continua o trabalho com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na pesquisa, os professores propuseram o modelo da "Abordagem Equilibrada" para reduzir os ruídos. “O modelo trabalha em quatro frentes: a redução do ruído nas aeronaves; medidas de ordenamento e gestão do território; procedimentos operacionais e restrições de operação”, afirmou o especialista.

De acordo com ele, em Duque de Caxias (RJ), por exemplo, o incômodo poderia ser reduzido caso os aviões reduzissem a altura de voo de uma vez só, em vez de descer gradativamente. Outra frente de trabalho do grupo de Slama é a de estudar fachadas para os edifícios mais próximos aos aeroportos que reduzam o barulho sem restringir completamente a ventilação.

Atualmente, em torno dos aeroportos são traçadas áreas de acordo com a emissão sonora. Nas zonas mais próximas, não é permitida a construção de residências nem de estabelecimentos de ensino e saúde. Porém, como com os aeroportos chega a valorização desses terrenos, muitas vezes a legislação não é respeitada e quem mora ou trabalha nesses locais também sofre com os ruídos. “Uma das questões principais é a falta de comunicação entre as autoridades do Setor Aeroportuário e as Prefeituras, que tem formas diferentes de avaliar o barulho. Com isso, o Plano Diretor dessas cidades não é integrado com o zoneamento estabelecido para os aeroportos, o que acaba provocando a ocupação de áreas que não deveriam estar sendo utilizadas”, esclareceu Jules Slama. “Parte do nosso trabalho foi criar ferramentas para o diálogo entre a Infraero e os governos.”

— O ruído é tolerado hoje porque é visto como um mal necessário, mas existem regulamentos e soluções para esse problema. É necessário tratarmos disso agora até para evitar que alguns aeroportos sejam interditados no futuro — alertou o especialista.