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Jornalistas discutem riscos na cobertura de violência

 Jornalistas especializados em coberturas de conflitos deram continuidade, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, na tarde de quinta-feira, dia 26, ao Seminário internacional Mídia e Violência. Participaram da mesa “Situações de conflito – Jornalistas em ação”, com mediação de Anabela Paiva, organizadora do livro Mídia e Violência,  Doug Saunders, chefe da sucursal canadense Globe and Mail, Raphael Gomide, da Folha de S. Paulo, e os especialistas em treinamento para jornalistas em situações de conflito Ana Arana, jornalista investigativa norte-americana, e Marcelo Moreira, da TV Globo e membro do International News Safety Institut (INSI).

– A violência não deveria ser monótona. Nenhuma morte de um ser humano é banal – diz Doug Saunders, diante da indiferença em relação a notícias de assaltos, ocupações policiais, sequestros, perseguições, assassinatos e guerras.

Segundo ele, as imagens nos noticiários transformam a informação em espetáculo, levando o leitor ou espectador a não refletir sobre os acontecimentos. Doug indica as possibilidades para que notícias sobre conflitos cumpram seu papel para a sociedade:

– O jornalista tem que trazer um elemento de estranheza para a história, pegar fatos conhecidos, agregando-os a uma novidade. Fomos treinados para simplificar as coisas, mas nesse caso de situação de guerra, em geral, é fundamental mostrar a complexidade do fato.

Formado pela Escola de Comunicação da UFRJ, Raphael Gomide explicou que o foco de reportagens deve ser humanizado, destacando boas histórias e mostrando os dramas de pessoas que sofreram com a violência. Raphael já teve experiência de cobertura na Faixa de Gaza e recentemente realizou para a Folha de S. Paulo a reportagem investigativa “O Infiltrado: a PM por dentro”. Para esta última, prestou o concurso da Polícia Militar do Rio, frequentando o curso por um mês a fim de conhecer os motivos que explicassem o fato de a polícia do Rio de Janeiro ser, segundo ele, a que mais mata e também a que mais morre. Mas Raphael alerta que a infiltração só é um modo eficaz quando a segurança pessoal não está em risco. Deve ser uma ferramenta, portanto, a ser usada com cautela no jornalismo investigativo.

Em zonas de perigo, zelar pela segurança pessoal é essencial. “Não há matéria pela qual valha a pena morrer”, afirma Raphael, ao apresentar dados da International Federation of Journalists (IFJ). A pesquisa mostra que o Brasil ocupa o 12º lugar no ranking, com 16 mortes de jornalistas. Em primeiro lugar fica o Iraque, com 136 repórteres mortos, sem contar com outros 51 profissionais de apoio.

De acordo com Marcelo Moreira, da TV Globo, as organizações de comunicação no Brasil passaram a se preocupar com a segurança dos profissionais de imprensa depois da morte do jornalista Tim Lopes, barbaramente assassinado no Complexo do Alemão, em 2002.

Ana Arana afirma que, na produção da matéria, o jornalista deve evitar revelar nomes, mostrar rostos, além de ter cuidado na relação com as fontes. Anabela Paiva aponta a violência como fator que acaba prejudicando a qualidade do jornalismo:

— Nós temos uma imprensa que está intimidada com esse tipo de cobertura. Isso está afetando a qualidade do nosso jornalismo. Os jornalistas só se sentem seguros acompanhados de policiais — observa.