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Palestra aborda origem e evolução de doenças parasitárias

 Na última sexta-feira (2/12) aconteceu no Auditório Hélio Fraga a palestra do pesquisador Adauto Araújo, da Fundação Oswaldo Cruz. Intitulada “Origem e evolução das doenças parasitárias – Infecções parasitárias no Velho Mundo e sua influência na América colonial”, a conferência fez parte do III Seminário História das Doenças.

O pesquisador inicialmente falou sobre paleoparasitologia: “Teve sua origem a partir do estudo das doenças do passado. As primeiras investigações nesta área deram-se no início do século XX, quando Sir Marc Armand Ruffer descreveu ovos de parasitos em múmias, usando técnicas de reidratação dos tecidos mumificados para preparar cortes histológicos, diagnosticando patologias em populações do Egito antigo”, aponta Araújo.

De acordo com ele, no Brasil foi Luiz Fernando Ferreira, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, que criou o conceito de paleoparasitologia em 1978, referente ao estudo de parasitos em material arqueológico ou paleontológico. Adauto expôs que o objetivo do professor era saber que infecções parasitárias existiam na América pré-colonial e quais seriam aquelas introduzidas por colonizadores europeus e escravos africanos.

Araújo relatou que Luiz Fernando em seu laboratório discutia sobre a possível presença de estossomíase na América pré-colonial, o que poderia ser avaliado através do estudo de material proveniente de sítios arqueológicos. Após análise, constatou-se que esta suspeita não prosseguia, porém, foram encontrados diversos outros parasitos no material observado, o que serviu de base para muitas descobertas.

Segundo o pesquisador, os corpos mumificados são fontes importantes para o estudo de doenças do passado. “As múmias podem mostrar lesões que são identificadas pelos paleopatologistas, mas também é possível procurar resquícios de infecção por parasita pelas técnicas da biologia molecular, utilizadas desde aproximadamente 1985”, aponta Adauto. Ele informou que atualmente os laboratórios de paleoparasitologia e paleopatologia contam com o auxilio destas técnicas.

A paleoparasitologia molecular vai além da descoberta da presença de doenças em épocas antigas. “Estudos sobre a origem e dispersão das doenças parasitárias e seus agentes etiológicos podem ser feitos a partir de dados obtidos da recuperação de material genético de parasitos em material humano”, indica Araújo. Estes dados contribuem na pesquisa sobre a origem de hospedeiros, as relações entre estes e os parasitos, as migrações humanas no passado, sua distribuição atual, a emergência e a reemergência de doenças.

Adauto Araújo ainda falou sobre os primórdios da proliferação de parasitos: “Os grupos de pré-hominídeos devem ter surgido na zona de contato e mudança entre a savana e a floresta, onde encontravam alimentos com certa facilidade e percorriam um território não delimitado. Isto permitia a circulação de uma série de parasitos, que se proliferavam de forma rápida, visto que o contingente destes grupos populacionais era pequeno. Mas de fato se sabe muito pouco sobre os pré-hominídeos, os vestígios são raríssimos”, relata o pesquisador.

Posteriormente a esta fase, ocorreram mudanças climáticas e expansão dos seres humanos por ambientes variados, aos quais precisaram se adaptar. Cresceu a capacidade de criação de novas tecnologias, o que permitiu a exploração e transformação dos territórios. Com isto, surgem novos parasitos. De acordo com Adauto, alguns se mantiveram entre nossos ancestrais, enquanto outros persistem até hoje. É o caso do Pediculus Humanus, nome científico do piolho, que é um dos parasitos herdados. “Ovos de piolhos foram encontrados em um corpo parcialmente mumificado, datado de 11 mil anos, no Parque Nacional Serra da Capivara, sudeste do Piauí”, exemplificou Araújo.

Por fim, ele abordou a paleoepidemiologia da doença de Chagas, que busca esclarecer a origem e evolução da infecção no continente americano. “A infecção por Trypanosoma cruzi afetava grupos humanos muito antes de estabelecerem-se hábitos sedentários por domesticação de animais e plantas, para além da região andina. Deve-se ressaltar, no entanto, que a presença da espécie T. infestans nos povoados pré-colombianos da região andina marca o início de um processo de desenvolvimento da doença de Chagas em populações humanas. Nas terras baixas brasileiras e de outras regiões, a transmissão da infecção dava-se por convivência com espécies de vetores silvestres”, conclui Adauto.