Categorias
Memória

Cidadania, tecnologia e soberania em debate

A V Semana de Eletrônica e Computação, organizada pelo Grupo de Eletrônica e Computação da UFRJ (GECOM), teve início ontem, dia 10, no Auditório Horta Barbosa, situado no Centro de Tecnologia (CT/UFRJ) com uma palestra sobre a importância da atuação de engenheiros na exploração do pré-sal. O encontro também abordou como tema os 45 anos do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ).

Criado em 2003, por iniciativa de alunos da Engenharia, o evento reúne estudantes universitários, técnicos de outras instituições e profissionais da área para discutir assuntos relacionados à tecnologia e sociedade. “Este ano o evento traz como tema a tecnologia como fator de afirmação do Brasil no cenário mundial. A idéia principal é reunir alunos, empresas, academias e o governo para discutir soberania, tecnologia e cidadania”, declarou Alberto Jorge Silva de Lima, coordenador-geral da Semana e aluno do 9º período de Engenharia Eletrônica e Computação.

Walter Suemitsu, decano do CT, que participou da abertura, valorizou a importância do evento.  “Essa semana permite discutir outros aspectos além de questões técnicas. O pré-sal pode mudar o papel do Brasil no mundo e também o seu desenvolvimento, tornando-o mais acelerado e menos desigual, desde que o recurso seja bem explorado. Para isso, é essencial a participação da sociedade. Essa semana é uma ótima oportunidade para garantirmos a soberania”, declarou.

A palestra de abertura foi proferida por Aquilino Martinez, vice-diretor da Coppe, que falou sobre a alta demanda por engenheiros no mercado e apresentou um panorama dos 45 anos do instituto a partir da descrição dos projetos, como o tanque oceânico, e aspectos de infra-estrutura da unidade. De acordo com o professor, é preciso integrar as áreas de conhecimento. “Muito do que era dominado em termos de tecnologia, hoje é um desafio na área da prospecção do pré-sal. A dificuldade tanto para exploração quanto para transporte é enorme, mas estamos fazendo pesquisas para superar esse desafio”.

Uma mesa realizada à tarde, formada pelo professor Carlos Lessa, ex-Reitor da UFRJ, e Ney Zanella, vice-almirante da Marinha, discutiu a utilidade da produção da tecnologia nacional no contexto de manutenção da soberania brasileira. Ficou clara a necessidade da educação como meio concreto de inserção do Brasil no cenário internacional.

A defesa do território nacional frente aos interesses de grupos estrangeiros foi outro ponto ressaltado no encontro. Um dos principais problemas discutidos foi a questão da fronteira marítima brasileira, ainda não definida.

Em função das riquezas provenientes do mar, a Organização das Nações Unidas (ONU) permitiu que os países costeiros elaborassem uma nova delimitação de suas fronteiras. Durante 10 anos, a Marinha, com apoio da Petrobras, realizou um levantamento da fronteira leste brasileira. “Em 2006, nós apresentamos à ONU o que seria o espaço litorâneo brasileiro, cerca de 4,5 milhões km², sendo metaforizado de Amazônia Azul, em comparação com a floresta amazônica que ocupa aproximadamente 4,3 milhões km²”, afirmou o vice-almirante.

Diferente do que ocorre com a plataforma de Campos, a 100 milhas do continente, situada dentro da Zona Econômica Exclusiva, a delimitação do pré-sal encontra-se no limite da chamada Amazônia Azul.

– Na linha do mar, a única forma de manter-se soberano é com a presença – argumentou Ney Zanella.

Segundo Carlos Lessa, não existem parâmetros concretos sobre a extração do pré-sal. Estimativas apontam, no mínimo, 15 milhões de barris. Afirma-se que esse cálculo pode chegar aos 70 milhões. Há, no entanto, alguns eufóricos que chegam a prever 200 milhões. “Com 40 milhões de barris, o Brasil já passa a ser a 9ª reserva mundial”, disse o ex-Reitor.

Essa temática incluída na pauta confere maior peso à questão do ensino como estratégia nacional. “Espera-se que cada geração possa produzir uma geração mais bem preparada do que a sua própria. O velho ideal de que o mestre deve introduzir um discípulo que o supere é o que a nação espera de um sistema educacional”, afirmou. Lessa aproveitou a ocasião para defender também a educação como um instrumento de reposição das nações:

– Entre cidadania, soberania e tecnologia, você constrói o futuro de uma sociedade. No momento, o futuro da sociedade brasileira parece estar poderosamente dependente do que vamos fazer com a Amazônia Azul, que gera para o Brasil uma possibilidade de conflito terrível nessa área – concluiu o ex-Reitor.

Seguindo o mesmo raciocínio, Zanella também ressaltou que a universidade não difunde somente a técnica, mas é responsável pela criação e proliferação de idéias e conhecimentos que servem como vetor para qualquer problema de soberania nacional.

A Semana termina na sexta-feira, com as palestras: “Hadoop Cloud Computing: Uma Implementação Prática com PageRank”, a ser proferida por Marcelo Azambuja, coordenador da área de WebMedia da Globo.com e “OpenSocial – Programando para Redes Sociais”, com Débora Silva, ou engenheira? da Google Brasil.