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Debate e cinema na ECO: “Baixio das bestas”

Pré-estréia de novo filme de Cláudio Assis movimenta UFRJ

O cineclube Cinerama, da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), promoveu a pré-estréia do filme “Baixio das bestas” no dia 9/05 às 17h. O evento contou com a presença do diretor Cláudio Assis, da produtora Julia Moraes e da atriz Mariah Teixeira para um debate após a sessão.

O filme retrata a condição da mulher na região da Zona da Mata pernambucana. Mariah Teixeira interpreta Auxiliadora, jovem de 16 anos explorada pelo avô que a leva num posto de gasolina para expô-la nua em troca de dinheiro. Caio Blat e Matheus Nachtergaele são jovens que promovem orgias violentas, acompanhados de prostitutas.

Caminhoneiros masturbadores, prostitutas “atiradas” interpelam-se no longa, encontram-se, debatem-se, violentam-se – imagens de um primitivismo que o brasileiro comum considera muito distante de sua “civilização”. Questionada, Julia Moraes diz que a violência contida no filme não é gratuita; está ali para ilustrar o que acontece realmente: “o que incomoda no filme é saber que essa violência existe, e faz parte das relações humanas”.

Segundo o diretor, a intenção do filme é denunciar uma realidade que por vezes é esquecida ou ignorada pela sociedade. Pernambucano “arretado”, Assis não mediu suas palavras: “o filme mostra o câncer que existe naquela região, o câncer da cana que destrói tudo, até as relações humanas”.

Tanto para Assis quanto para Julia Moraes, o verdadeiro cinema brasileiro ainda não recebe o apoio e atenção merecida. Para ambos, os grandes patrocinadores investem em determinadas produções que garantem isenção de certos impostos e marketing de graça.

O cinema brasileiro regional e “não-hollywoodiano” depende de outros incentivos como a Lei de Audiovisual. O filme de Cláudio Assis ganhou o prêmio de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura, o que lhe garantiu a produção, porém ele impede que o vencedor capte mais recursos via isenção fiscal.

Como o filme é considerado uma produção pernambucana, a escolha de Cláudio por atores de outros estados como Caio Blat, Matheus Nachtergaele e Dira Paes foi contestada pelo público presente no debate. Em resposta, Assis declarou: “não interessa de onde eles vieram, o que interessa é que eles são bons. Agora o resto do elenco é todo pernambucano, eu sou pernambucano!”.

 “Baixio das Bestas” foi premiado no Festival de Brasília em diversas categorias, dentre as quais, melhor filme. Um fato curioso é que não houve consenso quanto à obra: em meio a aplausos, ouviram-se também vaias. De fato, o assunto referido em “Baixio” é tão chocante que, por mais que se lute para aceitar que, naquele momento, o que se está assistindo é meramente uma produção cinematográfica, dói recordar a dimensão de verdade que existe nas cenas.