Categorias
Memória

A mulher no foco da Escola de Serviço Social

No Dia Internacional da Mulher, a II Semana Acadêmica da Escola de Serviço Social/UFRJ, comemorando seus 70 anos, realizou duas mesas-redondas e voltou as atenções para as homenageadas do Dia com os programas de saúde pública, trabalho e política. O evento se deu no Auditório Pedro Calmon, situado no Palácio Universitário do campus da Praia Vermelha.

Na primeira mesa, mediada pela professora Fátima Grave da ESS/UFRJ, a enfermeira Ruth Floresta Mesquita, subgerente do Programa de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, se discutiu a situação de programas como os de Planejamento Familiar, Pré-Natal, Atenção ao Parto entre outros na cidade.

Em 1996 surgiu a lei 9263/1996 seguida como diretriz do programa de Planejamento Familiar no município. A partir de 2006, começa um processo de descentralização dos Centros de Aplicação, que passam a ter total autonomia no agenciamento de suas unidades. Ainda assim, no sistema municipal há vários fatores que impedem a articulação de uma maior atenção à mulher.

Segundo Ruth Floresta, para a maior captação de mulheres para os programas, é necessário que se tenha mais cuidado no atendimento do posto médico. É preciso pensar em todas elas como potenciais freqüentadores, além de oferecer as condições mínimas para que continuem mantendo o contato. “Uma mulher que chega procurando participar de um grupo de planejamento familiar, não pode esperar que as aulas acabem para só então, começar a receber seu método contraceptivo. Se assim for, ao final do curso, há chances de que esta mulher esteja grávida e só possa aplicar o que aprendeu, dali a nove meses, na melhor das hipóteses”.

No Pré-Natal, as questões principais são melhorar a qualidade de atendimento e dos exames, e diminuir ainda mais o número de crianças nascidas mortas e de mortalidade materna nos países da América Latina. A inauguração das maternidades Leila Diniz e Maria Crioula são desafios assim como baixar a incidência de sífilis congênita nos recém-nascidos, ainda bastante alta.

Sobre abortamentos, os dados são muito imprecisos, mas, estima-se, que um quarto das mulheres abortam. Ruth Mesquita aponta também que, no Rio, a morte materna por abortamento é muito maior em negras do que em brancas, denunciando questões de diferenças sociais nesses números, ainda mais quando nota-se que em paises onde o aborto é legalizado, quase não há mortes decorrentes dele.

A professora Ludmila Fontenelle Cavalcanti, adjunta da ESS/UFRJ apresentou a pesquisa da Escola de Serviço Social sobre prevenção da violência à mulher, realizada com o apoio do CNPq e da Secretaria de Saúde da Prefeitura. O objetivo da pesquisa era analisar as percepções do profissional envolvido na atenção primária à mulher quanto ao tema.

Violência à mulher compreende não só o estupro, mas qualquer ato ou tentativa de relação sexual sob coação, ou fisicamente forçada, no casamento ou em outros relacionamentos, e opera como um meio para manter e reforçar a subordinação da mulher. Ao contrario do que se pensa, os agressores são geralmente os próprios maridos das vítimas. Estima-se que um quarto das mulheres pode vivenciar esse tipo de violência durante a vida, e que 1/3 das adolescentes iniciam sua vida sexual de maneira forçada.

Como a maioria desses casos de violência de gênero não tem agressão física, é muito difícil captar as vítimas para encaminhá-las.  A violência é preocupante, pois, além de todos os danos psicológicos que causa à mulher, ela pode matar, seja por estrangulamento na hora do ato ou por depressão, ocasionando casos de suicídio.

O tema Mulher, Política e Ações Afirmativas foi discutido pelas professoras da ESS/UFRJ: Sheila Backx, Zuleica Lopes de Oliveira, Maria das Dores Campos Machado e Clara Araújo da UERJ. Segundo Zuleica, são necessárias políticas que busquem a superação das diferenças, a valorização do trabalho doméstico e investimentos na saúde reprodutiva para que se possam notar melhoras efetivas na condição do trabalho feminino.

“É importante destacar que o fato de ainda se notarem desigualdades e segregação entre homens e mulheres não significa pessimismo, mas diz respeito à necessidade de se lutar para melhores condições entre os sexos”, finalizou Zuleica.