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Esquerda em perspectiva

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agencia2355T.jpgOs rumos da esquerda brasileira foram discutidos no último dia 12 dezembro, no prédio da reitoria, na Ilha do Fundão. O ex-deputado e jornalista Milton Temer, o cientista político, César Benjamin, e o ex-deputado e ex-presidente do PT no Rio, Vladimir Palmeira, debateram, por mais de duas horas, sobre a crise da esquerda no Brasil e no mundo, a crise do PT e os três anos do governo Lula. Mediado pelo professor Carlos Vainer, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano regional, IPPUR / UFRJ, o debate foi marcado por um respeito mútuo entre os convidados, que mantiveram um clima de cordialidade do início ao fim da discussão.

Histórico

Vladimir Palmeira fez um panorama econômico, político e social da ex-URSS, destacando que o fracasso socialista da região se deu em função da economia estadizada e da não adaptação do país a 2º Revolução Industrial. “A prática nos mostrou que a economia estatal não comporta uma economia complexa”, disse ele.

Em oposição à opinião de Palmeira sobre a falência da ex-URSS, o jornalista Milton Temer defende que o socialismo não existe sem democracia, e vice-e-versa e, por isso, o chamado Socialismo Real na ex-URSS ruiu.

Para Vladimir, o poder deve ser dividido, pois só desta forma haverá um maior equilíbrio entre eles. Palmeira considera o capitalismo um sistema com grande capacidade de reprodução, podendo, desta forma, absorver vários fatores. Mais uma vez, o jornalista discorda de Palmeira, por não acreditar em reformas para modificar o capitalismo, como defendeu o petista. Até porque, para Temer, o desenvolvimento do sistema capitalista não serviu em nada para o gênero humano, tendo apenas sido importante para a acumulação de capital.

Agentes históricos

Os debatedores divergiram sobre quem é o agente histórico, o responsável pelas mudanças estruturais pelas quais o Brasil necessita passar. Segundo Palmeira, a esquerda brasileira não sabe quem são os agentes históricos que irão promover a transformação social no país. “É preciso que haja uma nova geração social, que fale, que promova a transformação social”, disse ele.

O jornalista Milton Temer considera completamente falida a idéia dos partidos como instrumentos de transformação social. Já o cientista político Cézar Benjamin, o agente de transformação social é o povo. “A grande mudança que houve no Brasil foi à formação do povo brasileiro”, afirmou ele.

Contrário a opinião de Benjamin em relação à formação do povo brasileiro, o professor Carlos Vainer, mediador do debate, disse que o desenvolvimentismo do século passado, bastante defendido pelo cientista político, criou um povo ignorante, miserável e sem qualquer consciência política, não vendo, portanto, nenhuma possibilidade desse mesmo povo ser o agente histórico que irá impulsionar a transformação social no Brasil.

Crise da esquerda

Palmeira afirma que no Brasil a crise da esquerda é muito maior do que a existente no mundo. Isso, segundo ele, é conseqüência da crise da legitimidade pela qual passa a esquerda brasileira em função do fracasso do PT.

Vladimir Palmeira lembra que há um desencontro básico na história do Partido dos Trabalhadores. “Enquanto o PT ascendia, as forças de sua base, os movimentos populares, decresciam. Isso só não aconteceu com o MST”, disse ele, que considera o movimento um reflexo do atraso do país.

Palmeira defende que o PT é ainda a grande vertente socialista do Brasil, fazendo duras críticas ao PSOL. “O PSOL não é uma opção. Seu programa é velho”, afirmou.

Rebatendo a posição de Palmeira, Temer considera que o PT está tão à direita moderada, que chegou a produzir um documento que em nada se parece com uma crítica efetiva ao governo, embora o diretório do partido a definisse como tal. Temer se refere a uma resolução do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores, tornada pública no início do mês de dezembro que critica a política econômica e as elevadas taxas juros no país.

“Este é o governo dos banqueiros, do grande capital e das grandes empresas estatais que dão lucro”, disse Temer, fazendo referência as palavras de João Pedro Stédile, um dos líderes do MST.

Na opinião de Benjamin, o PT tinha uma forma de luta estratégica bastante definida, que era a de eleger Lula. Pensava-se que a vitória de um ex-torneiro mecânico iniciaria uma nova forma de se fazer política, o que não aconteceu, disse o cientista político.

Anos 80

Cezar Benjamin afirmou que nunca houve uma década perdida, como consideram alguns a década de 80. “Durante 50 anos, o Brasil teve um crescimento bastante significativo. O que não ocorre nos decênios que sucederam os anos 80”, disse.

“Não houve década perdida e sim, uma mutação estrutural econômica que fez com que ocorresse a adoção de um sistema de baixo crescimento”, concluiu ele.

Governo Lula

“A concentração de renda caiu no governo do PT, que faz a maior transferência de renda do mundo. Não venham me dizer que o PT é o governo dos banqueiros. O governo Lula é um avanço em relação a todos os governos que já tivemos”, afirmou Palmeira.

Segundo Milton Temer, Lula é mais eficiente aos banqueiros do que foi FHC. Eles não o aceitam por puro preconceito de classe. O Lula estiolou os movimentos sociais, afirmou Temer, que disse que enquanto houver sistema financeiro, não existirá um sistema democrático de fato.

Na visão de Benjamin, é um absurdo falar que o governo Lula está promovendo distribuição de renda. “É preciso entender como foi feito a PNAD, Plano Nacional de Desenvolvimento por Amostra Domiciliar. Ele divide a população em parcela de 10%. E a parcela de 10% que sofreu uma compreensão de renda foi da classe média, disse ele.