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Cabo Frio nas ondas do UFRJmar

O município de Cabo Frio, dos dias 17 a 23 de outubro, foi palco da sexta edição do Festival UFRJmar. Com atividades culturais e educacionais realizadas com a colaboração de cerca de 650 alunos 150 professores da UFRJ, o evento reúne produção acadêmica e desenvolvimento regional em torno de uma referência comum para todo a região costeira do estado do Rio de Janeiro: o mar. Mais de 20 mil pessoas participaram do Festival, um espaço vivo para o intercâmbio de saberes.

agencia2255T.jpgO município de Cabo Frio, dos dias 17 a 23 de outubro, foi palco da sexta edição do Festival UFRJmar, um projeto que visa a criação de profundos vínculos sociais entre a Universidade e a população local. Com diversas atividades culturais e educacionais realizadas por alunos e professores da UFRJ, o evento reúne produção acadêmica, conhecimento e desenvolvimento regional em torno de uma referência em comum para todos os municípios da região costeira do estado do Rio de Janeiro: o mar.

Com três Pólos de atividades integradas – na Praia do Forte, na Ilha do Japonês e no Centro Educacional Marly Capp – o Festival começou bem cedo, com a montagem e organização das tendas, palco e locais recreativos, realizada em conjunto por alunos e funcionários da Universidade, contando com o decisivo apoio da Prefeitura Municipal para a sua infra-estrutura.

“Quero simplesmente agradecer ao incrível trabalho da Universidade Federal do Rio de Janeiro por, mais uma vez, voltar sua atenção ao interior do estado”, disse o prefeito de Cabo Frio, Marcos da Rocha Mendes, mostrando-se emocionado com a alegria dos estudantes que, já às 9 horas da manhã, transpareciam grande entusiasmo ao participar das atividades do evento. “Se depender de mim, e de toda a equipe da Prefeitura, teremos o UFRJmar muitas outras vezes em nossa cidade durante meus quatro anos de mandato”, afirmou Marcos Mendes, na cerimônia de abertura do dia 18, quarta-feira, que contou com a presença do reitor, pró-reitores, do prefeito da UFRJ, professores e membros da Prefeitura de Cabo Frio.

Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ, aproveitou a oportunidade para manifestar seu orgulho pelo Festival: “É desta forma que construiremos, aos poucos, uma cultura universitária diferente, baseada no congraçamento de conhecimentos e na valorização de nossa produção”. Para encerrar a abertura do evento, um veleiro de dois mastros, construído por alunos do curso de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica, foi batizado com o nome de “Cabo Frio” pelo coordenador do Núcleo Interdisciplinar UFRJmar, o professor Fernando Amorim.

Com cerca de 650 alunos e 150 professores envolvidos no evento, o 6º Festival UFRJmar, sob coordenação do professor Armando Alves de Oliveira, da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), é uma das iniciativas mais ousadas de extensão da Universidade. Ele estimou que participaram do evento quase 20 mil pessoas. Por dia, visitaram o Pólo 1, que ficava na Praia do Forte, cerca de 3 mil a 4 mil pessoas.

Para todas as idades

Nem mesmo com a chuva – que parecia não dar trégua à cidade durante os dois primeiros dias do evento – os participantes hesitaram em realizar as oficinas da Praia do Forte, o maior Pólo de atividades. Os primeiros a participarem foram estudantes do ensino fundamental de diversas escolas do município, orientados por seus professores.

“Trouxe meus alunos da 2ª série para aprenderem, na prática, alguns conceitos que ensino na sala de aula. A brincadeira é a forma mais descontraída de entender como o mundo funciona”, disse a professora Márcia Cristina de Mello Silva, da escola CIEP 193. Seus alunos participavam da oficina “O Corpo e o Mar – Corporeidade”, da EEFD, na qual as crianças escorregavam em bóias sobre um material plástico, encharcado de água e sabão, até caírem em uma piscina. “A atividade consiste na percepção do próprio corpo, utilizando ações que lembrem o movimento do mar”, disse Carolina Gornic, uma das alunas responsáveis pela oficina.

Próximos às atividades de corporeidade, alunos de Educação Física e da Companhia Folclórica do Rio apresentavam às crianças algumas danças folclóricas nacionais relacionadas à temática marinha, como a Tarituba – originária de Parati – e a Coco – presente na região Nordeste. Movimentação, música e divertimento, em uma atividade que acabou também alegrando vários “jovens” adultos próximos à tenda. Em pouco tempo, todos dançavam ao som de instrumentos tocados pelos alunos da oficina. Juliana Endler que o diga. Aluna de dança da Companhia Folclórica, ela não só monitorou as atividades como participou entusiasticamente: “Essas danças, apesar de pouco conhecidas pelo público em geral, são bastante expressivas”. Não esquecidas, a Capoeira e o Maculelê também fizeram parte do UFRJmar, divertindo alguns dos primeiros adolescentes a participarem do evento, em uma oficina orientada pela EEFD. “Pretendemos difundir uma cultura corporal diversificada”, afirmou Daniel da Silva, um dos alunos responsáveis. A escalada, atividade de estímulo à determinação e auto-confiança, foi outra experiência oferecida pela Educação Física, associada à atividade de corda bamba (slack line), que integrou também alunos de Biologia e Fisioterapia.

Além da EEFD, outra unidade de presença marcante no Festival foi a Escola Politécnica, através do curso de Engenharia Naval e Oceânica e de ações promovidas pelo Pólo Náutico. Oficinas de marinharia – trabalhos com nó, que podem virar até peças de arte, orientados pelas mãos do Mestre Moreira, que conhece de perto o ofício, pois integrou a equipe da Marinha que trabalhou no Navio – Veleiro Cisne Branco –, experimentações de equilíbrio e estabilidade de corpos flutuantes na água, sob orientação do professor José Henrique Sanglard, construção de pequenas embarcações, permitiram estímulo à criatividade e à agilidade manual de participantes de todas as idades, com diversos materiais como madeira, arames, cola e tinturas. “A oficina de construção de barquinhos foi uma das que eu mais gostei. Também participei da Capoeira junto com minhas amigas”, contou Luiza Monteiro da Silva, de 14 anos.

Para Sandra Alves, Gerente de Produção do Festival, falas como a de Luiza Monteiro confirmam que a organização deu ênfase ao pedagógico, na passagem das idéias para as crianças que visitaram as oficinas. “Os estudantes universitários eram vistos fazendo aquilo que lhes era peculiar por escolha de formação e ou vocação, partilhando com as crianças e jovens da localidade, possibilidades de futuro para si próprios”, concluiu Sandra.

Diversidade como atração

Como nem tudo são flores, alguns “papos cabeça” também tiveram seu espaço na Praia do Forte. Dando atenção à necessidade de se educar jovens em relação a algumas questões ligadas à saúde, como doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a Divisão de Saúde do Trabalhador (DVST), vinculada a Pró-Reitoria de Pessoal, ofereceu rodadas de perguntas e respostas sobre saúde para o público adolescente. O primeiro encontro na Praia do Forte teve como temática o sexo seguro, com dicas sobre o uso da camisinha oferecidas pela diretora da DVST, Vânia Glória Alves. “Atualmente, não falamos mais em grupo de risco, e sim em atitude de risco. Portanto, todos devem ser informados”, declarou Vânia, com cerca de dez alunos curiosos ao seu redor fazendo as mais variadas perguntas sobre a questão. “É um assunto que nossos jovens devem discutir com pessoas além de seus pais e professores, para que a mensagem seja transmitida em linguagens diferentes. Desta forma, a conscientização do jovem é formada com maior diversidade de pontos de vista”, opinou Eduardo Velasco, professor da Escola Municipal de São Cristóvão, que observava a conversa de seus alunos com Vânia Alves.

Uma tenda em particular atraiu a atenção de muitos curiosos que passavam por perto. A oficina do Observatório do Valongo, chamada “Conhecendo o Céu”, levou um planetário inflável até a Praia do Forte, proporcionando uma forma diferente de encarar o mundo: através das estrelas. Com o objetivo de ensinar orientação no espaço através da disposição dos astros celestes, os monitores da oficina apresentaram as principais constelações visíveis na latitude da região em várias épocas do ano e a mitologia a elas associada. “Projetamos no planetário inflável dois cilindros diferentes, um contendo as estrelas como são vistas por nós, e outro contendo os desenhos das constelações”, observou Lara Rodrigues de Andrade, uma das alunas responsáveis pelas atividades do Observatório. Além do planetário inflável, outros aparatos também foram expostos aos participantes da oficina, como um relógio de sol e dominós com planetas.

Fazendo jus ao caráter diversificado do Festival, muitas outras unidades da UFRJ tiveram a oportunidade de oferecer ao público oficinas ligadas às suas áreas de pesquisa e extensão. Escola de Belas Artes (EBA), Instituto de Geociências (IGEO), Instituto de Biologia, Faculdade de Letras (FL): todos tiveram seu espaço no UFRJmar. Desta forma, o evento construiu em torno de si uma atmosfera abrangente, permitindo o aprendizado de trabalhos artesanais – como chocalhos e bonecos folclóricos –, o contato com réplicas de fósseis, a visualização de seres microscópicos até a contação de histórias e demonstração de conceitos de ecologia e conservação do meio ambiente, principalmente dos ambientes aquáticos.

Inclusão como meta

A Engenharia Naval e Oceânica, além de suas atividades no Pólo 1, também fez do cenário paradisíaco do Pólo 2 – na Ilha do Japonês – sua oficina de dingue (veleiro de dois lugares), windsurf, kayak e barco a remo para seis pessoas (Jacumã). “Até domingo de manhã, todos puderam aprender a ‘timonear’ (navegar em) barcos à vela e manobrar com pranchas à vela. Primeiro, todos foram orientados quanto às características de cada oficina, para depois terem aulas práticas”, disse Thiago Marinho de Vasconcelos, aluno de Engenharia.

Próximo à Praia do Forte, o Hotel Caribe, na Avenida do Contorno, também foi palco de algumas oficinas . A de Inclusão Digital Audiovisual foi uma delas, com atividades de filmagem e edição de vídeo. Trabalhando com equipamentos fornecidos pela Universidade, alunos e professores da rede municipal exercitaram um olhar próprio sobre o Festival. Ao optarem pela formulação de um vídeo sobre o UFRJmar puderam aprender conceitos de enquadramento, edição de imagem, gravação, dentre outros, além de terem a oportunidade de apresentar a todos, ao final do evento, o vídeo produzido, batizado de “Viagem Intergaláctica”. “O tema é o UFRJmar. Todos devem colocar a mão na massa e aprender na prática como funciona o contato do indivíduo com o vídeo. Não queremos uma filmagem óbvia, e sim uma filmagem criativa, artística”, disse Marcos Reis, um dos alunos da EBA responsáveis pela oficina. A estudante Débora Mazloum, também da EBA e que colaborou na oficina que esteve sob a coordenação do professor José Cubero, destacou: “Para a maioria, foi a primeiro contato com uma câmera profissional e a oportunidade de vivenciar, desde a elaboração do roteiro à fase final de edição das imagens”.

Outras duas oficinas de inclusão digital também foram marcadas pelo sucesso. A primeira,
na Escola Municipal Professor Edílson Duarte, coordenada pelo professor Antônio Cláudio Gomes de Sousa, do Departamento de Eletrônica da Escola Politécnica. Apoiada por estudantes de Engenharia Eletrônica e de Engenharia Elétrica, a oficina utilizou-se do software “Cartunes” para produzir uma série de pequenas animações, que ganhavam forma no monitor com personagens e paisagens previamente selecionadas pelos próprios autores, recheada de diálogos também redigidos por eles.

Já no Pólo 3, o Centro Educacional Marly Capp abrigou, entre outras tantas atividades, a confecção de um vídeo de animação que se utilizou massinha como material para a construção dos personagens. Jaime Junior, convidado a ajudar na orientação da oficina, narrou que mais de 120 alunos participaram nos diversos turnos e, ao final, geraram um filme que estará com sua edição brevemente concluída.

Georgina Martins, integrante do Grupo de Pesquisa em Literatura Infantil, do setor de pós-graduação da Faculdade de Letras, foi a coordenadora de duas outra oficinas que aconteceram no Hotel Caribe: a “Contos Maravilhosos em Texto e Contexto” e a “Contação de Histórias”, voltadas, respectivamente, para o público adulto e infantil. “Com a oficina de histórias, pretendi atingir principalmente o público de crianças. Já com a oficina de contos maravilhosos, procurei informar professores quanto à necessidade do homem de representar o próprio cotidiano e às origens históricas da escrita e dos contos”, disse Georgina, autora do livro infantil “Uma Maré de Desejos”. No mesmo hotel, a professora Eleonora Ziller, também da Faculdade de Letras, ofereceu reflexões sobre poemas de Camões, Fernando Pessoa e outros, poetas que falam do mar.

Da Física Experimental ao Mar Tenebroso

“A chegada do UFRJmar à cidade é extremamente positiva, pois identifiquei nesta oficina, por exemplo, coisas que nunca tinha imaginado fazer em sala de aula”, comenta o Professor de Física e de Matemática, Fred da Silva Cesário, que atua no Colégio Aplicação da Faculdade Ferlagos, em dois colégios particulares e também dá aulas, na rede estadual, para turmas de Jovens e Adultos de ensino médio, à noite. São, ao todo, 17 turmas e cerca de 300 alunos. Para ele, “a maior tarefa do educador que trabalha com Física e Matemática é mostrar que no cotidiano é possível identificar os fenômenos físicos e as equações matemáticas. Associar o conhecimento que nós temos com o mundo ao conhecimento científico. A melhor maneira que encontrei na Física, foi com a realização de pequenos experimentos, que não precisam de grandes aparatos de laboratórios e traduzem conceitos básicos de forma mais palpável, permitindo uma integração entre alunos e professor na sua construção e avaliação de resultados.”

Fred pode apresentar alguns destes experimentos aos seus colegas, durante a oficina de “Atividades de Física Experimental no Ensino Fundamental e Médio”, promovida pelo professor Clovis Bucich, da Escola Politécnica da UFRJ, ocorrida nas dependências da Ferlagos. A iniciativa correspondeu plenamente ao propósito do professor Clóvis, que procurou oferecer aos professores participantes, elementos para enriquecer suas aulas de Ciências e Física. Vários aparatos foram confeccionados, a baixo custo, favorecendo o futuro manuseio pelos alunos e o aprendizado de rudimentos de Mecânica, Eletricidade e Ótica.

“É a segunda vez que dou esta oficina para professores. Creio que estes três dias ajudaram a despertar determinadas possibilidades, entre elas, o desejo de manter um intercâmbio conosco, via lista de e-mail, ou outras formas de encontro para a troca de saberes. Vi diversos professores combinando grupos de estudo. Isso é um dos efeitos multiplicadores deflagrados pelas oficinas, que nos animam a continuar nesta empreitada”, afirmou Clovis Bucich.

Outra oficina também realizada na Ferlagos e que cativou os professores da rede pública e de escolas particulares foi a denominada: “ Observatório do Passado: A Aventura da Colonização do Mar Tenebroso ao Cabo Frio, realizada pela professora Maria Aparecida Rezende Mota. Trata-se de uma oficina de História do Brasil, com duração de três dias, que permitiu aos cerca de 30 participantes discutir a colonização do território brasileiro. Professora de 15 turmas de ensino Fundamental e Médio da rede Municipal e do Estado, Claudine Alvarenga Silva achou fundamental a realização da oficina, pois “ no dia-a-dia, nós ficamos afastados das grandes discussões acadêmicas. Essa é uma oportunidade de atualização, que nos permite avaliar o que temos feito na sala de aula, além de permitir rever algumas das minhas concepções históricas.”

Breve Balanço

Muitas outras oficinas – como a de “Energia Solar” ou sobre “Mares Primitivos”, – palestras – como as proferidas por integrantes do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), – atividades – como “Esportes do Litoral”, – apresentações – como peças de teatro, performances, – manifestações culturais – como os shows de música, – passeios no catamarã Varuma, – espetáculos de dança – como “Pelos Mares da Vida”, da Companhia Folclórica do Rio/UFRJ, – tiveram lugar no Festival. O registro de imagens, que aprestamos nesta reportagem, assinala-la algumas delas.

Para o Coordenador do Núcleo Interdisciplinar UFRJmar, Fernando Amorim, “Esta 6ª edição marcou a consolidação da idéia de fazer um grande evento de extensão, que sirva também como estratégia de interiorização da universidade, promovendo da construção de relações mais sólidas com a comunidade. É uma experiência de vida muito importante para os alunos, não só para eles vivenciarem a cultura de uma cidade não metropolitana, menos neurótica e com relações mais humanizadas, como partilharem conhecimentos adquiridos na universidade com as pessoas da região em que ocorre o Festival”.

A Sub-Secretária de Educação, professora Laura Barreto, que junto com o Sub-Secretário de Meio Ambiente, Alfredo Barreto, foram incansáveis em assegurar o efetivo apoio da Prefeitura de Cabo Frio ao Festival, destacou: “Vejo que o Festival ampliou o horizonte de muitos alunos e professores, que não tiveram a oportunidade de vivenciar uma Universidade. Nós temos alunos que vieram da parte rural de Cabo Frio, que têm até dificuldade de ver o mar, apesar de viverem em um município costeiro e participaram de todas as atividades náuticas. E isso eles não vão esquecer nunca. Tudo o que aprenderam com a explicação de física, de geologia, de astronomia, do corpo em movimento, enfim, todas as experiências e cursos, palestras e oficinas vivenciadas pelos que participaram do Festival só engrandeceram essa relação entre a UFRJ e a municipalidade, que a gente deseja que permaneça”.

Segundo representantes da Prefeitura, a época ideal para a realização de atividades em Cabo Frio é entre março e maio. Entre as razões, questões ambientais, como o fato do vento ser mais fraco, até condições financeiras, pois a municipalidade dispõe de melhores saldos orçamentários. Há, portanto, uma pré-disposição da coordenação do Festival de inverter a seqüência de eventos, realizando o 7º UFRJmar em Cabo Frio e o 8º Festival em Arraial do Cabo, no segundo semestre de 2006.

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